Há diálogos que nos marcam.
Sobretudo quando quem os recorda é um dos protagonistas.
Este que reproduzo, na sua simplicidade, é perfeito.
O amor e o desejo traduzidos em palavras.
Para ler e reler.
– Olá – disse eu. Ao vê-la senti que estava apaixonado por ela. Foi como uma revolução dentro de mim. Ela olhou para a porta, viu que não estava ninguém, sentou-se na beira da cama, inclinou-se e beijou-me. Apertei-a de encontro a mim, beijando-a, e senti o coração dela a bater.
– Oh, querida – disse eu. – Que coisa extraordinária ter conseguido vir para aqui!
– Não foi muito difícil. Talvez seja mais difícil ficar.
– Tem que ficar – disse eu. – Oh, como você é maravilhosa! – Estava louco por ela. Custava-me a acreditar que a tinha ali nos meus braços, e apertava-a com toda a força de encontro a mim.
– Não – disse ela. – Ainda estás muito fraco.
– Não estou nada. Vem.
– Não. Ainda estás muito fraco.
– Estou bom, sim. Anda.
– Amas-me?
– Amo, com certeza. Estou louco por ti. Vem!
– Como os nossos corações batem!
– Não quero saber dos nossos corações. Quero-te a ti! Estou doido por ti!
– Amas-me, realmente?
– Não estejas sempre a repetir isso! Por favor, por favor, Catherine.
– Está bem, mas só por um minuto.
– Seja – disse eu. – Fecha a porta.
– Não… não devias…
– Vem. Não digas nada. Vem, peço-te!
Frederic Henry e Catherine em “Adeus às armas”, de Ernest Hemingway