Votar ou não votar – eis a questão… e, afinal, para quê?

Cresci com a firme convicção de que votar, mais do que um direito cívico e um acto de cidadania é, sobretudo, um privilégio.

Não faltam países – e alguns não estão assim tão distantes quanto isso -, onde votar está, para os respectivos habitantes, no mesmo rol de possibilidades como ir à lua.

Sobretudo enquanto mulher, esse respeito é ainda maior, porque a tentação, em pleno século XXI, de fechar as mulheres em casa, desprovidas de quaisquer direitos, tapadas dos pés à cabeça, analfabetas e com o único propósito de procriar é o sonho de muitos – até de centenas de jovens europeus, portugueses inclusive, rapazes e raparigas, para quem a Democracia, a Igualdade de Género, ou mesmo os Direitos Humanos, parecem nada significar, como infelizmente se tem visto.

Parece que nada disto tem relação com as eleições do próximo Domingo, mas tem.

Confesso que o acto de votar se transformou, paulatinamente, num fardo. As desilusões e os desenganos têm sido muitos e dolorosos. E digo sempre que não torno a votar. Que me vou abster. Que vou ficar em casa, plantada no sofá, consumindo os meus livros, os meus filmes, as minhas séries.

Mas, depois, surge a voz da minha consciência, essa malvada. E sobretudo a voz da Senhora Minha Mãe, que sempre me diz que muita gente lutou, sofreu e morreu para que eu tivesse o direito de votar – enquanto cidadã e enquanto mulher. E esse é o argumento que me quebra sempre e me leva a votar, acto eleitoral após acto eleitoral.

Quanto aos nossos candidatos a representantes, salvo honrosas excepções, que as há, “até nos fazem chorar”, como dizia D. Maria da Cunha, personagem de “Os Maias”, a propósito dos políticos portugueses do século XIX. De resto, e falando em “Os Maias”, alguns deles fazem-me lembrar o Conde de Gouvarinho – essa brilhante caricatura que Eça de Queirós traçou dos homens da “coisa pública” do seu tempo. Neste aspecto, a galeria queirosiana é extensa – como esquecer, por exemplo, o Conselheiro Acácio de “O Primo Basílio”?

Se Eça de Queirós vivesse hoje, não lhe faltaria matéria-prima na qual se inspirar. E nós cá estaríamos a rir das semelhanças… para não chorar.

É bem verdade que há muito por onde escolher… o problema é saber em quem depositar algo tão importante quanto a nossa confiança e o nosso voto.

Li recentemente que há um movimento defendendo que o número de votos em branco deveria corresponder à equivalente quantidade de lugares vazios no Parlamento, democraticamente eleitos…

É uma ideia interessante.

As cadeiras vazias representariam os muitos milhares de eleitores que se deram ao trabalho de sair de casa, entraram na urna e, em consciência, decidiram que nenhum estava à altura da sua cruz

Bem sei que, apesar de todos os “se”, “mas” e “estava tão bem em casa”, o privilégio de poder escolher fará com que me dirija à Assembleia de Voto. Contrariada, é certo, mas feliz por viver num país onde essa oportunidade me é dada.

Acabarei, como sempre, angustiada por não saber se, na privacidade da urna, fiz a melhor opção. Mas, apesar de tudo, terei optado, em vez de ter deixado que optassem por mim.

E isto sim, é viver em Democracia.

Como eu gosto daqueles idiotas

Há um grupo de idiotas com quem tenho passado excelentes meias horas nestes últimos anos. Não aprendo nada com eles; não me obrigam a pensar e nem sequer têm nada a ver comigo mas, mesmo assim, neste momento, não os dispenso.

Eu e milhões de seguidores em todo o mundo, diga-se de passagem.

Continuar a ler

O senhor do fio dental vermelho

Eu já o tinha visto na sala de jantar do hotel e admirado, surpreendida, as suas mãos: as unhas eram compridas, redondas e pintadas de preto, à excepção das unhas dos dedos anelares, pintadas de vermelho. Trabalho de manicure. Nas unhas dos pés, verniz preto também.

Continuar a ler

O amor, a guerra e um murro no estômago

Todos sonhamos com histórias de amor que acabem com os protagonistas aos beijos e abraços e o eterno “casaram, tiveram muitos filhos e foram felizes para sempre”. Decerto é por isso que os contos de fadas nunca passam de moda.

Infelizmente, o nosso lado mais pessimista (e realista?) sabe bem que a Cinderela, a Branca de Neve e a Bela Adormecida, juntamente com os respectivos príncipes encantados tiveram muita sorte.

Aqueles que, por qualquer motivo, tiveram azar e protagonizaram uma história de amor trágica – real ou ficcional – ocupam sempre um lugar especial no imaginário popular. Basta pensar no Romeu e na Julieta ou nos nossos Pedro e Inês de Castro.

Amor e sangue.

Aí está uma combinação fascinante – sabemos que é tudo muito lindo, mas aqueles dois, por muito que nos custe, estão marcados – o amor será breve e vai acabar mal.

Continuar a ler

A praga dos seres humanos que ninguém quer

Foi assim que o primeiro-ministro inglês os chamou.

Praga.

Muitos recordaram a David Cameron que são pessoas e não insectos.

Nem vou por aí.

Continuar a ler